terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Otimismo, seu Grande Aliado


Encarar os revezes com uma disposição positiva pode não resolver tudo, mas evita uma cilada: aumentar o problema
Para desestressar, uma historinha. Dois irmãos gêmeos estão de aniversário. O mais pessimista ganha uma Ferrari, e o mais otimista, uma lata cheia de fezes de cavalo. Como eles reagem? O pessimista: "Ih, e agora? Como vou manter esse carro? Não vou ter dinheiro... que dor de cabeça!". O otimista: "Ganhei um cavalo, alguém viu ele por aí?".
Ginecologista e obstetra, especialista em Medicina do Sexo e presidente (2000/2002) da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática (ABMP), José Carlos Riechelmann é quem lembrou dos gêmeos ao ser questionado sobre as consequências de atitudes otimistas ou pessimistas.


O que isso tem a ver com prevenção de doenças e estresse? Muito.
"A vida não é fácil, nem difícil, ela é desafiadora, e o que a torna uma coisa ou outra é o nosso olhar sobre ela", afirma ele. Essa percepção do entorno, se entende na conversa com Riechelmann, passa intimamente pela relação que temos com o corpo - nosso primeiro universo, que registra as impressões do mundo e que traz, desde a infância, uma história e um jeito de lidar com esse mundo.
"Não se é pessimista ou otimista simplesmente porque se quer. Este poder ou não poder ser não é apenas um ato de desejo consciente. Está relacionado com toda uma história de vida", acrescenta o psiquiatra e psicoterapeuta Vitor Rodrigues, lembrando da força das vivências primitivas e infantis na determinação da personalidade de cada um ao comentar a complexidade deste tema.


O corpo que acusa dores e mau funcionamento em razão de uma vida estressante está permanentemente "enviando" informações ao inconsciente. Algumas delas rompem uma "barreira" e chegam ao consciente; outras não. Segundo Riechelmann, questões culturais e o modo como aprendemos a lidar com o corpo determinam a permeabilidade dessa barreira. Tal sintonia, ou capacidade de "ouvir" o próprio corpo, é fundamental quando pensamos em prevenção. Mas o médico aponta para uma sintonia ainda mais fina.
"Quem desde criança tem uma boa relação com seu corpo, respeita a condição evolutiva natural, vê o corpo como algo bonito, bom, prazeroso, e isso está ligado a viver a sexualidade com naturalidade, mantendo um grau não exagerado de repressão, sem culpa, essa pessoa tende a ser um adulto de bem com a vida. O otimista é alguém assim", explica. E continua:
"Alguém que, ao contrário, não construiu uma relação amiga e tranquila com o próprio corpo acredita que ele incomoda o mundo inteiro. Então, precisa controlá-lo. Ao interferir no ritmo natural, entra em briga, cria dificuldades para o corpo. Uma hora, então, ele vai apresentar defeito". É comum, lembra ele, pessoas muito tensas e controladoras apresentarem, por exemplo, constipação intestinal e é claro que isso vai se refletir na rotina da vida. "Vê a palavra enfezado... cheio de...? Em geral, o enfezado vai reagir de forma mau-humorada, pessimista", associa.
A questão parece ser: a vida é estressante ou o modo como você lida com ela é que é?
O doutor Rodrigues se pergunta: "O que é ser otimista? O que é ser pessimista? Ser otimista é não fazer plano de saúde porque uma força superior não me trará doenças? E ser pessimista é fazer três planos? Se for uma questão de escolha da postura diante da vida, eu prefiro o realismo".


Para Riechelmann, o otimismo, o bom humor é ter uma esperança inabalável, no sentido de entender que os problemas existem sim, mas há saídas, e a cada dia podemos caminhar um pouco em direção a elas. "Esperança, de esperar. O contrário: desesperar. O estressado em geral é um desesperado, não?". E, para entender por que alguns esperam o melhor mais do que outros, o médico mergulha de novo na infância e avisa que isso passa também pelo modo como foram compreendidas as necessidades e as frustrações dessa criança. "O acolhimento, um colo amoroso, isso desenvolve a esperança", afirma.
Ok, e podemos mudar? É possível deixar de ser pessimista ou aprimorar nossa esperança na vida? Sim, é.
Riechelmann comenta: "Num primeiro momento, não escolhemos essa condição. Imitamos alguém, ou os pais, ou o que vemos no entorno. Você vai vivendo daquele jeito até porque só conhece aquele. Até que se começa a fazer uma autocrítica. A consciência de que pode ser diferente é o primeiro passo. Você pode se reprogramar".
O que provoca a autocrítica? O convívio com pessoas que levam a vida de um jeito "diferente", por um lado; e, por outro, a sensação de que algo não vai bem - que pode ser percebida sutilmente, se você se dá bem com seu corpo, ou percebida de modo drástico, ou seja, por meio de uma doença. Nesse caso, o estresse é um aviso. E, diante dele, com qual dos gêmeos você se parece?


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